Ando mais do que atrasada nas opiniões sobre os livros que vou lendo... tenho que tentar mudar de tática - talvez fazer gravações das minhas impressões acerca do que vou lendo, para depois não me perder?
Por agora, e para não me perder (mais uma vez, e mais ainda), deixo aqui uma citação do livro que estou a ler neste momento (Juízo Final de Sam Bourne) - e que estou a adorar:
"Podem perguntar se eu, quando finalmente compreendi (qual seria o objectivo de tudo isto), alguma vez questionei o que iria fazer. Mas aquilo que ninguém pode perceber, a menos que tenham visto o que nós vimos, é o quão profundo o nosso ódio se tornara. Era maior do que qualquer um de nós; podíamos nadar e afundar-nos nele e sabíamos que perduraria para além da nossa própria existência.
Quem odiávamos nós? Odiávamos as pessoas que eram capazes de pegar num bébé a chorar, pelos tornozelos, e esmagar-lhe o crânio inocente contra uma parede de tijolos. Odiávamos as pessoas que eram capazes de reunir seres humanos e amontoá-los em ruas medievais e fétidas e matá-las à fome para que os seus corpos fossem comidos por cães vadios. Odiávamos as pessoas que nos disseram que iríamos ser realojados no leste, enfiando-nos em comboios, em vagões para gado, e depois separando-nos - para a direita e para a esquerda - assumindo o papel de anjos da morte, decidindo no cais, junto a um comboio acabado de chegar e ainda fumegante, quem deveria viver e quem deveria morrer. Odiávamos as pessoas que nos espancavam, chicoteavam e empurravam, às nossas crianças e aos nossos velhos, para o interior de cabines de chuveiro em cimento, dizendo que nos íam "desparasitar", porque estávamos infestados como animais cheios de pulgas - continuando a mentir até ao final de tudo - e observando-nos enquanto esperávamos pela água que nos lavaria e que nunca chegava, observando através de um olho-de-boi enquanto o gás lançado por uma lata de Zyklon B penetrava no local, com os homens, mulheres e crianças no seu interior a trepar uns por cima dos outros para chegarem ao que, no seu desespero, pensaram poder ser uma abertura no tecto ou no cimo de uma parede, a uma fonte de ar não envenenado e respirável. Odiávamos as pessoas que arrancavam os anéis dos nossos dedos e o ouro dos nossos dentes, que os derretiam pelo dinheiro que poderiam obter a partir deles. Odiávamos as pessoas que arrancavam as roupas dos corpos dos nossos mortos, enviando-as para casa para serem usadas pelas suas mulheres, filhos e filhas. Odiávamos as pessoas que, após terem extraído a riqueza da nossa própria carne, nos atiravam para dentro das incineradoras, nos sufocavam com a cinza que ascendia e caía como neve cobrindo tudo num raio de kilómetros. Odiávamo-los pelo seu plano de nos erradicarem da face da Terra, para destruir as nossas pedras tumulares e rasgarem os ventres das nossas mulheres para que aquela geração fosse a última. Odiávamo-los pelo insaciável ódio que nos tinham.
Quando um homem arde com uma ira tão incandescente como esta, ainda mais inflamada pela certeza de que o resto do mundo está preparado para seguir em frente com um encolher de ombros - fica disposto a fazer quase tudo. Para saciar esta raiva fica disposto a qualquer coisa. Tal como eu estava disposto."
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