Zoe confirmou com um aceno de cabeça.
- Não consigo explicar bem como é que faço - respondeu. - Olho para uma peça e ela... toca-me, e a partir daí, quase instantaneamente, descubro se é ou não uma falsificação.
- Toca-te?
Zoe hesitou.
- Seth é a única pessoa que sabe disto - continuou, ainda hesitante. Thalia olhava para ela, na expectativa. - Devo-te a minha vida - disse Zoe finalmente - Eu... nós temos passado estes tempos como irmãs. Posso confiar-te um segredo?
Thalia dirigiu-lhe um sinal afirmativo.
- Quando olho para as telas e para as cores, escuto sons - principiou Zoe devagar.
Thalia franziu a testa, como se não percebesse bem o que Zoe lhe dizia.
Esta acenou-lhe com a cabeça. - O vermelho é como se fosse um violoncelo; o amarelo é como um flautim.
Thalia tinha o rosto repleto de assombro.
- Sempre escutei as cores - prossegiu Zoe. - Desde que me lembro. Pensava que todos eram iguais a mim. E quanto mais crescia, mais os meus pais ficavam preocupados. A minha mãe julgava que eu estava possuída pelo demónio e em cada Domingo pedia na igreja que rezassem por mim.
- O meu pai, por outro lado, levou-me à socapa a um psiquiatra que realmente não tínhamos posses para pagar - o que deu origem a uma discussão que durou quase cinco anos. Mas o psiquiatra descobriu imediatamente que eu tinha sinestesia.
Thalia fez uma preocupação preocupada.
- Fiquei tão aliviada ao saber que não era maluca.
- Uhm-uhm - preferiu Thalia, com ar incrédulo.
- Sinestesia é um entrecruzamento inofensivo no sistema nervoso central - como as linhas cruzadas na rede telefónica - que provoca a mistura dos sentidos. Alguns sinestésicos têm gostos de acordo com as formas do que levam à boca, outros sentem cheiros nas cores. As drogas psicadélicas como o LSD e o peiote induzem ao mesmo tipo de experiência, mas cerca de 25.000 pessoas com este sintoma consideram isto natural, provavelmente porque os nossos cérebros estabeleceram ligações diferentes ainda antes de nascermos. A maior parte dos sinestésicos são canhotos - tal como eu - e a manifestação mais comum é a obtenção de cores através de sons, que é o oposto do que eu sinto."
in A Filha de Deus, de Lewis Perdue
2 comentários:
Muito interessante, sim senhora. :)
Agora fiquei com curiosidade de ler o livro xD E acho que o tenho cá por casa... hummm
Francisco, para já estou a gostar bastante! Já avancei muito na leitura, mais um par de horas e já está!! ;)
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