"- Tenho setenta e dois anos. Não tenho tempo para esperar que os mandarins da Cúria considerem ou preparem o assunto. Receio que seja desse modo que as coisas são enterradas e esquecidas. Eu e o rabino já falámos. Vou ao ghetto na próxima semana, com ou sem o apoio da Cúria...ou até do meu secretário de Estado. A verdade, Eminência, libertar-nos-à.
- E você, o papa de rua do Veneto, pretende conhecer a verdade.
- Só Deus conhece a verdade, Marco, mas Tomás de Aquino escreveu a respeito de uma ignorância cultivada, uma ignoratia affectata. Uma falta de conhecimento voluntária designada para nos proteger do mal. É tempo de nos livrarmos da nossa ignoratia affectata. O Nosso Salvador disse que era a luz do mundo, mas aqui no Vaticano, vivemos na escuridão. Tenciono acender as luzes."
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"Durante os dezoito meses que se seguiram, a equipa de Shamron assassinou uma dúzia de membros do Setembro Negro. Pessoalmente, Gabriel matou seis destes. Quando tudo terminou, Benjamin regressou à sua carreira académica. Gabriel tentou voltar para Betsal'el e fazer o mesmo, mas a sua capacidade para pintar fora escorraçada pelos fantasmas dos homens que ele matara, e assim ele deixara Leah em Israel e mudara-se para Veneza para estudar restauração com Umberto Conti. Com os restauros, encontrara a cura. Conti, que nada sabia do passado de Gabriel, parecia compreender isso. A altas horas da noite, ía ao quarto de Gabriel, numa pensão decrépita e arrastava-o para as ruas de Veneza para verem arte. Uma noite, perante o enorme altar-mor de Ticiano na igreja dos Frari, Umberto agarrou Gabriel pelo braço.
- Um homem satisfeito consigo mesmo pode ser um restaurador mediano, mas não pode ser um grande restaurador. Só um homem com uma tela danificada que seja sua é, de facto, um grande restaurador. É um tema sobre o qual podes meditar. Um ritual. Um dia serás um grande restaurador. Melhor que eu. Tenho a certeza.
E embora Conti não o soubesse, Shamron dissera a Gabriel aquelas mesmas palavras, durante a noite antes de ele ter sido enviado a Roma para matar o seu primeiro palestiniano."
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" O velho parecia preocupado com a mão direita do doente, o que o pessoal de enfermagem achava estranho, já que os seus outros ferimentos eram muito mais graves. Foi chamado um radiologista. Foram tiradas radiografias. Um especialista ortopédico concluiu que a mão saíra do acidente extraordináriamente intacta, embora ele tivesse reparado numa cicatriz profunda entre o polegar e o indicador, um ferimento recente que nunca cicatrizara adequadamente."
in O Confessor de Gabriel Silva
1 comentário:
Está tudo bem? Andas desaparecida... Logo agora que te queria perguntar se esta tara que desenvolvi pela saqa Twilight pode ser considerada "normal" :) Beijoca
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