Olhando para atrás, vejo que se passaram praticamente 5 anos desde a minha ultima entrada no Blog… muita coisa aconteceu entretanto, a Mafalda cresceu (!! ainda mal acredito), as leituras foram imensas, novas aventuras emocionantes se viveram, mas hoje volto aqui, porque estou a viver um dos dias mais tristes - se não o mais triste, da minha vida - até ao momento, do “alto” dos meus recentemente completados 47 anos…
Hoje levamos a enterrar o meu Pai… tenho o coração esmagado de dor, que me assola por ondas, quando menos espero… quando estou sozinha, quando me olho num reflexo, quando fecho os olhos…
Só consigo ver a luz na cara dele quando me via “Oh, minha filha!!”, mesmo quando dolorosamente víamos a sua saúde a escapar-se-lhe no decorrer dos últimos meses… era o momento que eu testemunhava em que olhar dele mais vibrava!… e agora que ele se foi, esta memória invade-me uma e outra vez… e é um bocadinho mais do meu coração que se parte.
Foi o melhor Pai que eu alguma vez poderia ter tido, o mais amigo, o mais carinhoso. Nos seus anos dourados, era também o mais racional, analítico e sábio… a opinião que eu buscava sempre - ainda que não agora, por força da idade e das mudanças com que esta o foi moldando - mas durante tanto tempo o foi!
Ele pregava que eu era o anjo dele, mas agora, olhando para trás, não terá sido ele o meu anjo?
Eu beijava-o, abraçava-o, e acarinhava-o… mas retrospectivamente, gostava de o ter feito tanto mais! Tanto mais…
Ele amava tanto. A minha mãe, os meus irmãos. Com o tempo foi ficando mais mimalho, mais dependente dos nossos carinhos… só espero ter conseguido estar à altura das suas necessidades - se bem que tenho tanto medo de ter falhado. Será? Ou só assim o parece agora porque já não está fisicamente presente entre nós, e sei que já não o poderei fazer mais?
Parece-se impossível a adaptação de “ir aos meus pais” para “ir à minha mãe”… também ela agora se sente perdida e incompleta, depois de 66 anos de casamento… Como é que se vive sem uma parte tão importante de nós?
Um doloroso dia de cada vez, talvez ensine cada um de nós a fazê-lo… tenho esperança. Pai.